segunda-feira, 11 de junho de 2012

A propósito do feriado do Corpo de Deus… e de políticos imbecis.



Como era feriado para mim e “dia santo” para os católicos, resolvi dar um passeio mais ou menos largo.
A verdade é que nunca me tinha dado ao trabalho de apreciar o que os católicos fazem neste “dia santo”. 


Acho que aqueles que tecem críticas aos feriados e “dias santos” e são favoráveis ao seu fim desconhecem, como eu desconhecia, tudo o que se faz neste país.

Temos uma cultura rica, uma religião forte, um povo comprometido com essa cultura. Pelas muitas coisas lindas que vi, pela forma realmente valorosa e enobrecedora como se vivem estes “dias santos” e pelo respeito que merecem todas estas pessoas, seu trabalho e suas práticas, passo a ser terminantemente adepto da manutenção dos “dias santos” ou feriados religiosos

Qual é o feriado civil em que o povo se une e participa na sua celebração, aos milhares, de todas as idades e com tanta dedicação? Qual? 

Embora ache que é desnecessário e disparatado acabar com feriados por ordem da pandilha de ladrões internacionais, se algum feriado pode acabar não podem ser aqueles que o povo, efectivamente, celebra. 

Considero que o país está a ser violado na sua soberania, na sua dignidade e na sua liberdade. E, pior do que tudo, com um povo imbecilmente resignado, apático, rendido e calado a aceitar tudo sem o mais leve desacordo. Assim, talvez a celebração de alguns feriados civis já não tenha significado, mas os feriados religiosos continuam a ter significado e a ser comemoradas por uma grande parte dos portugueses.

Hoje, mais do que nunca, este país merece, sem dúvida, estas palavras:

Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas; um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai…
Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira a falsificação, da violência ao roubo, donde provem que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro. Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do País.(…)
Dois partidos sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes, vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se malgando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento, de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar.
Guerra Junqueiro, in 'Pátria (1896)'

Cento e dezasseis anos depois, um retrato fiel do país e dos políticos que temos.